domingo, 15 de agosto de 2010

Amizade, paixões, morte

Zuenir Ventura: Fazer amizade depende de uma porção de fatores, como falamos, de afinidades, de semelhanças, tem uma coisa misteriosa, como tem na construção do amor também. Fazer amigos é uma coisa complicada. Eu, por exemplo, não tenho tantos amigos assim. Tenho pessoas com quem me relaciono muito bem, mas que não posso dizer que são meus amigos. Não é fácil construir amizades. Acho que é mais fácil desfazer.

Gabi: Taí. Faço parte desse grupo do Zuenir Ventura. Acho que sou de poucos, porém bons amigos. Tenho várias pessoas com quem me relaciono muito bem, mas que também não diria que são meus amigos pra valer, daqueles que se pode dizer “pau pra toda obra”. Também acho que amizade é algo complicado. Depende de vários fatores e ações. Tenho amigos que considero de infância quando nem os conheci nessa época. Faby e Cilmara são dois exemplos. A Cilmara eu defino como minha nova-velha-amiga. É mais fácil desfazer amizades sim. Seja por alguma ação ou falta de. Eu tenho a sorte de nunca ter desfeito nenhuma amizade por algum mal-entendido. Muito pelo contrário, com todas as minhas amizades verdadeiras, se em algum momento houve um conflito, sempre foi resolvido.

Arthur Dapieve pergunta se a paixão pela cidade do Rio de Janeiro se mantém nos escritores.

Zuenir Ventura: No meu caso, se mantém. Com toda a síndrome da paixão, quer dizer, de amor e ódio. Até porque você idealiza, você projeta a cidade. Eu acho que é uma cidade com tantas razões, tantos motivos de prazer, e com tantas mazelas.
...uma cidade com uma oferta de gozo, gozo sensorial, como poucas. Realmente tem a coisa visual. Cada vez que você sai e chega no Rio num dia de sol é....

Gabis: Eu sei, Zuenir. É SENSACIONAL. Indescritível.

Luis Fernando Verissimo: Eu acho que o Rio é uma cidade sensual. Até escrevi uma vez que o ar do Rio era tão hormonal que respirar fundo era um ato sexual (risos). A primeira vez que vim ao Rio foi em 1948. Eu me lembro daquele cheiro de maresia com o asfalto, a maresia da Atlântica. A grande sensação foi provar um sorvete que só tinha no Rio, Kibon. E a partir daí o encanto perdurou.

Luis Fernando Verissimo: A lição maior, à qual eu acho que a gente resiste, é ver o absurdo da vida. Tudo isso pra quê? Pra nada, né. Agora, tudo isso tem seu valor. Mas, como visão de chegar a uma filosofia no fim da vida sobre a vida, eu acho que não serve pra muita coisa, não. Sei que é uma atitude meio niilista, mas é o que eu acho. A morte é o fim de tudo, não fica nem memória, pra gente não fica memória, não tem outra vida, não tem nenhuma conseqüência de ter vivido de um jeito ou de outro. Então, eu acho que a lição da vida é o absurdo da vida. Mas é uma lição à qual a gente deve resistir, não se deve sucumbir a ela. Acho que é o Camus que diz que a única questão filosófica séria é o suicídio. Quer dizer, o suicídio é quando você se dá conta do absurdo de tudo. Então, a gente deve resistir a este “se dar conta do absurdo da vida”. E viver como se a vida tivesse sentido, e você eventualmente vai levar um tipo de sabedoria, um tipo de conseqüência, um tipo de recompensa, vamos dizer assim.

Gabi: Eu prefiro acreditar em algo ou pelo menos que vale à pena, que existe algum sentido nisso tudo... e resistir a este “se dar conta do absurdo da vida”. Já disse Chacal "a vida é curta para ser pequena".

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