sexta-feira, 11 de março de 2011

Um conto II

Era noite. E bem estranha: fria na rua, abafada em casa. Após um longo e cansativo dia de aventuras e desafios – as aulas de física quântica já haviam voltado – um tragitrânsito a caminho de casa. Os delinquentes à solta, caotizando os transeuntes, expondo a violência gratuita e consumindo as drogas urbanas que os consomem. Nas vias expressas, o estresse põe os nervos à mostra, um parachoque de tensão para cada carro no limbo das curvas.

Depois de atravessar a caoscidade, chegamos ao nosso destino. O cheiro do mau-presságio emana dos esgotos, das valas, dos sinos das igrejas. O frio da rua dá impressão de névoa densa que enegrece a visão. De tão turva, enxerga-se meio palmo à nossa frente.

Então, irrompemos ao interior do castelo. A densidão desaparece, ofuscada pelo torpor abafado das largas paredes que parecem se deslocar em nossa direção. O sufocamento é inevitável e a claustrofobia vem à tona, apertando a garganta e retirando todo o pouco ar que nos resta.

De um cômodo para outro, percebo a diferença. Invisível, mas presente. Intocável, mas incômoda. Até que, a caminho do salão principal, ouço sons indecifráveis vindos da masmorra mais alta. Serão gritos? Espasmos? Será o som da morte após a mais cruel tortura?

Apreensão. O medo paralisa, ao mesmo tempo que empurra de encontro ao inesperado. A atração é quase que magnética e nos força a passar pelo último batente que nos separa do salão principal. A visão percorre o chão, buscando e ao mesmo tempo receando encontrar o que de pior poderia haver, quando se depara com a criatura.

A estatura é extrema, a roupa de palhaço macabro. O rosto maquiado com uma pintura mortal, e da boca escorria sangue. Nas mãos, um ramalhete de bexigas coloridas, cheias de ódio e ressentimento. E vem em nossa direção, um, dois, três, oito, dez desses vultos... quando a luz se acende. A vista ofusca.

Para minha sorte, os vultos ganham formas reais e reconheço um por um. Uma festa surpresa, rostos de alegria, sorrisos, abraços, afagos, felicitações. São familiares, amigos, pessoas do bem. Mas três convidados, no fundo do recinto, já faleceram. Há anos...

Um comentário:

  1. Aiii, que medo! Pensei que era uma invasão de palhaços e já estava apreensiva aqui, uma vez que odeioooo palhaços.
    Porra, o Piffer vê pessoas mortas? Quem eram os três visitantes que assopraram a vela dos 30 anos jto com ele?

    Bjo :=)

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