domingo, 13 de fevereiro de 2011

Herança materna

Meu Ben, você vai ter um avô admirável... assim como eu tive.

Gabi filhota,

O torvelinho da vida. Só assim as coisas acontecem. Se planejar muito, pode crer que dá zebra. Claro que temos que ter um mínimo de projeto, mas chamaria isso não de projeto, e sim de linha mestra. E esta é composta de muitos valores e desejos imprevisíveis, dependendo da formação de cada um. No nosso caso, da nossa família, origens, formação et cetera, diria que, entre esses valores, poderíamos destacar a simplicidade, a honestidade, o amor, a alegria da festa, o trabalho inevitável, o respeito aos outros e a solidariedade, aquilo de nunca querermos ficar bem dando rasteira nos outros. E muito mais... E depois precisamos viver esse instante, fazendo tudo... Se não der, corrigimos a rota. Mas o tempo é tão louco na sua velocidade, que, quando nos damos conta, já fizemos e concluimos tudo, tudo que achávamos que não conseguiríamos fazer... Com filho então, o tempo passa ainda mais rápido. Benjamin nem saiu da barriga, mas daqui a pouco... bom... nem vou falar... daqui a pouco ele está com dezoito anos, vinte e cinco et cetera... Pode parecer exagero, mas é sentimento de quem quer e vai viver muito, eu que devo passar dos oitenta e cinco... Somos um átimo, uma lasca de tempo, e isso não é para ficarmos reduzidos ao ínfimo... É só para lembrarmos a dimensão da vida, o alargamento das nossas potencialidades. Depois de um tempo de amadurecimento, aprendemos que nesse torvelinho não cabe o medo. Principalmente o medo dos nossos próprios fantasmas que habitam nossas preocupações, nossas fantasias no escuro, quando tentamos alcançar o sono. Não há que se temer absolutamente nada. O medo é uma espécie de morte em vida. Temos que dormir sorrindo. Sei que isso é difícil. Mas essa é a maior dádiva. Um dos versos do meu próximo livro (que talvez seja dedicado ao Benjamin), talvez o último poema seja mais ou menos assim, de apenas um verso: "Estamos sozinhos nessa imensidão ou temos vizinhos?"

Beijo
Seu Pai

3 comentários:

  1. Seu Pai é tão sensível, tão sensato, tão poeta, tão engraçado, tão louco...
    E é isso mesmo, ele é assim, do jeito que escreve e do jeito que fala. Sensacional, amiga.

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  2. E olha, levei pra vida:

    "Não há que se temer absolutamente nada. O medo é uma espécie de morte em vida"

    MEU DEUS. É GENIAL.

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