quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Queria ter a alma da Clarice Lispector...

Já contei que amoooo Clarice Lispector?! Sim, a amo. E moooorro de inveja da sua escrita. Estou lendo A descoberta do mundo (presente bem querido da minha amiga secreta Lilian). Sim, leio vários (2 ou 3) livros ao mesmo tempo! Mas os livros dela são para ler e divagar e sonhar... Ontem lendo um dos textos deste livro fiz uma descoberta: a minha alma pode ser a dela! No texto ela diz que nasceu para três experiências e eu me identifiquei exatamente com as três, pelo menos com duas delas (o que já é 90%). Eis:

1. Amar os outros. Ela declara: Amar os outros é tão vasto que inclui até o perdão para mim mesma, com o que sobra. As três coisas são tão importantes que minha vida é curta para tanto. Tenho que me apressar, o tempo urge. Não posso perder um minuto do tempo que faz minha vida. Amar os outros é a única salvação individual que conheço: ninguém estará perdido se der amor e às vezes receber amor em troca.
Constatação: pra mim também é importante amar os outros. Amo e vibro com as conquistas das pessoas que amo. Fico feliz como se fosse comigo. Gosto de compartilhar felicidade. Gosto de viver. E assim como Clarice tenho pressa e sede de viver a cada minuto, sem disperdiçar o tempo.

2. E nasci para escrever. A palavra é meu domínio sobre o mundo. Desde a infância eu tive várias vocações, uma delas era escrever. E nãosei por quê, foi essa que eu segui. Talvez porque para as outras vocações eu precisaria de um longo aprendizado, enquanto para escrever o aprendizado é a própria vida se vivendo em nós e ao redor de nós. É que não sei estudar. E para escrever, o único estudo é mesmo escrever. Essa capacidade de me renovar toda à medida que o tempo passa é o que eu chamo de viver e escrever.
Constatação: é com a escrita que ganho domínio sobre o mundo, é como consigo me expressar melhor. E eu também tive várias vocações: babá de Barbie, rainha da bateria de escola de samba (isso aos 11 anos, ao assistir os desfiles, eu vestia um vestido de mamãe e saía rodando com a vassoura na cintura) e até atriz, mas escolhi ser jornalista porque achava que só jornalista escrevia. Detalhe: assim como Clarice, eu também não sei estudar. E nem gosto.

3. Criar meus filhos. Quanto aos meus filhos, o nascimento deles não foi casual. Eu quis ser mãe. Meus dois filhos foram gerados voluntariamente. Eu me orgulho deles, eu me renovo neles, eu acompanho seus sofrimentos e angústias, eu lhes dou o que é possível dar. Se eu não fosse mãe, seria sozinha no mundo. Mas tenho uma descendência e para eles no futuro eu preparo meu dia a dia. Sei que um dia abrirão as asas para o vôo necessário, e eu ficarei sozinha. É fatal, porque a gente não cria os filhos para gente, nós os criamos para eles mesmos. Quando eu ficar sozinha, estarei seguindo o destino de todas as mulheres.
Constatação: Gente, percebam que mulher mais doce, linda e sensata foi Clarice. Eu ainda não tenho filhos. Mas sei que também não será casual, eu quero ser mãe. E eles serão gerados no momento que eu achar certo e conveniente. E acho que também me renovarei dele.

Clarice finaliza seu texto:
Sempre me restará amar. Escrever é alguma coisa extremamente forte mas que pode me trair e me abandonar: posso um dia sentir que já escrevi o que é meu lote neste mundo e que eu devo aprender também a parar. Em escrever não tenho nehuma garantia. Ao passo que amar eu posso até a hora de morrer. Amar não acaba. É como se o mundo estivesse à minha espera. E eu vou ao encontro do que me espera.
Espero em Deus não viver do passado. Ter sempre o tempo presente e, mesmo ilusório, ter algo no futuro.
O tempo corre, o tempo é curto: preciso me apressar, mas ao mesmo tempo viver como se esta minha vida fosse eterna. E depois morrer vai ser o final de alguma coisa fulgurante: morrer será um dos atos mais importantes da minha vida. Eu tenho medo de morrer: não sei que nebulosas e vias-lácteas me esperam. Quero morrer dando ênfase à vida e à morte.
Só peço uma coisa: na hora de morrer eu queria ter uma pessoa amada por mim ao meu lado para me segurar a mão. Então não terei medo, e estarei acompanhada quando atravessar a grande passagem. Eu queria que houvesse encarnação: que eu renascesse depois de morte e desse a minha alma viva para uma pessoa nova. Eu queria, no entanto, um aviso. Se é verdade que existe reencarnação, a vida que levo agora não é propriamente minha: uma alma me foi dada ao corpo. Eu quero renascer sempre. E na próxima encarnação vou ler meus livros como uma leitora comum e interessada, e não saberei que nesta encarnação fui eu queos escrevi.
Está me faltando um aviso, um sinal. Virá como intuição? Virá ao abrir um livro? Virá este sinal quando eu estiver ouvindo música?
Uma das coisas mais solitárias que eu conheço é não ter a premonição.
*
Eu abri a página deste texto por acaso, aleatoriamente, será este o sinal ao qual Clarice se referia? Será minha alma a de Clarice?! Quisera.

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