domingo, 19 de abril de 2009

A Partilha

Eu estou passando por uma transformação dentro de mim. Nos últimos tempos estou muito família e percebo que me sinto até carente. Tenho sentido mais saudades do meu pai que mora em outra cidade, saudades do tempo em que morava com a minha mãe. Alguns acontecimentos mudam para sempre nosso destino, um deles foi ter saído da casa da minha mãe. Sofri tudo o que tinha que sofrer quando mudei. Mas agora parece que voltou uma pontinha de não sei o quê. Uma pontinha de saudade de voltar ao tempo que não volta mais. É tudo tão maravilhoso quando se é criança, não precisamos nos preocupar com nada, tem alguém que se preocupa por nós.
Essa saudade toda deve-se ao que está acontecendo com a casa. A casa da vovó. A casa onde passamos vários natais, almoços, festas juninas, fogueira...a casa da minha infância (e de toda a família). Hoje foi estranho entrar lá e não ver a casa como sempre foi, com os enfeites da minha avó no lugar certo, com os móveis... sem meus avós. Embora tenha sido triste, gostei de guardar os pertences deles e descobrir e conhecer um pouco mais de cada um. Descobrimos uma latinha da minha avó cheia de botões; do meu avô descobrimos outra cheia de moedas antigas. Encontramos fotos antigas, grandes recordações. Outro achado, foram as fitas com gravações de conversas entre alguns parentes. Nelas continham a voz do meu avô. E eu pensei que nunca mais escutaria a sua voz.
Nesse clima de mudança, cada um quer a sua lembrança. Eu fiquei com algumas. Entre elas estão um vaso; uma foto minha (de quando eu tinha 5 mses) com dedicatória para meus avós; um ferro antigo desses de carvão; dois quandros com fotos minhas que ficavam expostos na sala junto com os de outros primos; e algumas outras preciosidades. O maior tesouro foi ficar com a moringa que ficava no criado mudo da vovó. Eu sempre achei lindo e de uma delicadeza sem tamanho ver aquela peça ao lado da cama da minha avó. Algumas vezes eu tomava água dela, por que acreditava ser uma água especial. E pensava que um dia eu teria algo igual. Mas nunca imaginei que seria a dela.
E descobrimos também o significado do valor sentimental das coisas. Eu juro que não sou materialista, mas me apego demais a determinados objetos, são os que eu chamo de meu tesouro e guardo com todo o meu carinho. Quando eu não puder mais cuidar, espero ter alguém que queira cuidar das minhas coisas com o mesmo zelo.
De tudo, acho que o maior tesouro são as lembranças. Essas ninguém pode tirar de nós, talvez só o tempo.

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