segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Um conto de terror

O fantasma e o tráfico de rins
(baseado em fatos reais)
por Roberto Piffer

Domingo, uma noite tranquila. Dia chuvoso, portanto uma noite úmida, frio ameno, deserto, o vazio, a praça taciturna. No sino da igreja, onze badaladas sinalizam o desfecho de mais um final de semana.

Quando, de súbito, vem a lembrança: nosso carro de boi ficou no estábulo, ao relento. Melhor guardá-lo no celeiro - disse a fazendeira concisa, já dentro da casa, ao renomado coronel.

E ruma o casal até a porta do antigo celeiro, construído com madeira de reflorestamento, ecologicamente correto (e aprovado pela conferência do clima, em Copenhague). À frente desse galpão imenso e com aproximadamente 4 metros de altura, rangem as pesadas portas, revelando um enorme vão que dá para uma escuridão sem fim.

O casal se entreolha de soslaio, certificando-se da presença de cada um, quando, como um relâmpago sem brilho, aparece a figura por entre os ventos gelados. Com sua saia comprida, ela parece flutuar sobre a relva, em silenciosos e lépidos passos.

- Você sabe onde fica a congregação? – diz a figura amorfa.

- Sim – diz o corajoso coronel – siga esta trilha que se estende à sua frente que chegará lá...

- Você me leva lá? – pergunta a voz, que mais parece o gorjeio de uma coruja.

- Não tem como, tenho minha fazenda para cuidar.

- Mas você disse que sabe onde fica! – com certa imposição na voz, indicando irritação e ao mesmo tempo mantendo um tom sobrenatural.

- Sei sim, siga aquela trilha, criatura do mal...

- Você tem os dois rins? Preciso de uma faca pontiaguda e uma banheira com gelo! – seguido de uma gargalhada aterradora... logo depois o corpo voa por cima de nossas cabeças e o vestido parece contornar em nossa direção.

- Todo gelo desta fazenda, já tem destino certo... Me dê um whisky ‘on the rocks’ por favor, rápido!

Então ela veio de encontro aos nossos corpos, nos transpassou como uma sombra e seguiu em direção à trilha...

Continua...

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