segunda-feira, 5 de abril de 2010

Miúdos (e/ou moelas)

Comecei a ler o livro Julie e Julia. Resumidamente, trata-se de uma história real relatada por Julie – uma mulher de quase 30 anos (ela tem 29 e esse “quase 30” só comprova aquela minha tese de que quem tem 29, tem de fato quase 30, meio termo, blá blá blá), em um emprego medíocre, pressionada para ter um bebê, sem conseguir achar um rumo para sua vida. Um belo dia encontra um livro famoso de receitas de Julia Child e tudo começa a mudar. O marido a incentiva fazer um blog no qual ela passa comentar todas as receitas que prepara todos os dias do ano. Basicamente isso, mas vai além.

Julie é muito engraçada, suas peripécias são ótimas e eu me identifico com ela, exceto o fato do emprego medíocre (isso eu não posso reclamar, embora o faça de vez em quando, afinal sou um ser humano!). Exceto (também) o fato que eu não cozinho. Não cozinho no sentido literal da palavra. Eu até sei cozinhar, preparar uma receita, mas não cozinho. Não chego em casa e preparo um jantar. Mas a explicação para isso é muito simples e séria, eu trabalho longe, chego em casa às 21h00, sou uma mulher moderna e não há santo que mereça ir para o fogão esse horário. Chega até ser perda de tempo. Então comemos um lanche ou uma comida congelada (viva a modernidade, ao consumo e o indivíduo que teve a brilhante idéia de congelar os alimentos!).

Lendo o livro até me bate uma vontade de ir para cozinha e preparar algo gostoso para o marido (de fato ele não foi fisgado pelo estômago. Eu conto com outros atributos. Faço outras coisas bem melhores, além de ser engraçada, inteligente, espirituosa, amável, cuidadosa, brava, teimosa, mandona, etc.). Recordo-me de alguns dos meus momentos culinários.

No natal de 2008 já estávamos casados e o Piffer tinha ganhado uma dessas cestas de natal com peru e vários outros quitutes natalinos. Na época nem preparamos nada porque passamos as festas nas casas dos familiares. Fui inventar de preparar o tal peru em janeiro de 2009 (vai vendo). Nem sabia se aquilo devia ser temperado. Eu nunca precisei fazer isso, minha mãe preparava tudo no dia de natal. Lembro que ela passava o dia inteiro na cozinha para que tudo ficasse pronto para a ceia. Ela gastava o dia todo, logo o modo de preparo devia ser complicado. Atualmente, o bicho vem temperado e quase pronto para assar. Li o modo de preparo, tentei fazer tudo de acordo e coloquei no forno. Alguns minutos depois bate na porta de casa um amigo. Comentei que estava assando o peru de natal e ele simplesmente me perguntou (como se fosse a coisa mais normal do mundo) “tirou os miúdos?”. Pausa. Como assim, que miúdos??? Isso fazia parte da época da minha mãe? E mentalmente veio a leitura do modo de preparo. Lá dizia para tirar esses miúdos, mas eu nem me dei conta, nem liguei os pontos, nem mesmo sabia o que eram miúdos. Sabia que era uma coisa que vinha no saquinho enfiado no traseiro da ave. Mas veja bem, se o negócio vinha temperado qual o sentido de manter o saquinho de miúdos dentro dele? Pausa. Tem gente que gosta de comer isso. Eca.

Meu amigo entrou em casa tirou os tais miúdos do peru (quem disse que eu tinha coragem de enfiar a mão no buraco do bicho?!). Ainda bem que fazia pouco tempo no forno. Agora imagine: para alguém bater a minha porta e após o meu comentário do menu perguntar se tirei os miúdos, esse alguém sabe que me falta alguns parafusos.

Julie também não sabia o que eram miúdos (ou moelas). Sabia que não era o fígado, mas entre os pedaços restantes de vísceras, qual deles era moela, ela não sabia. Eu até hoje também não sei.

Nenhum comentário:

Postar um comentário